terça-feira, janeiro 31, 2006

Aos Amigos!

Não os tenho ao desbarato, mas a vida tem sido generosa comigo. Dá para ficar um tempo a contá-los pelos dedos. Falo daqueles que dá para ficar um tempo, daqueles a quem as mãos apertam com força, a quem os braços puxam para mais perto. Perco-me em lembranças, por causa daqueles que já o foram um dia. Alguns já o Tempo não traz, outros...ainda aparecem para os abraços, para recordações, mas depois...cada um para o seu novo mundo.
Dos que ficam, nem todos têm a mesma importância, como seria óbvio. É bom quando estas importâncias estão definidas. Comparando-me com uma máquina, os amigos são as peças que me fazem mexer. É preciso ir fazendo umas actualizações, umas adaptações. Assim, tenho peças que servem para me ajudar a andar, outras para acenar ou para rir. Tenho outra que me dá a volta à barriga, que faz bater o coração e...que não me sai da cabeça. São os melhores amigos estes.

Mas...há sempre um mas, é preciso ir oleando as peças, uma por uma. Bem sei que não é fácil, que dá trabalho, mas é a vida (e é mesmo). Por isso, hoje dou atenção a umas, amanhã a outras, e por aí fora. Às vezes esqueço-me, confesso. Depois, até parece que custa, como se estivesse ferrugenta. O pior é mesmo quando deixamos que algumas acumulem esforço, mas para tudo há solução. Mesmo para os nós nas articulações.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Sempre as estrelas...

Às vezes as noites chegam sem avisar. Não sei se é porque o Sol se põe depressa ou se é porque bebemos o dia de um só trago. Seja qual for a razão, o céu já estava pintado de negro e cheio de estrelas. A presença de algumas era reconfortante e o brilho suficiente para uma orientação segura. As outras, por humildade, mantiveram-se à distância, mas sempre presentes.
A madeira estava pronta, ao centro, à espera do fogo. Ao redor estávamos nós, as crianças dos sorrisos rasgados, os jovens dos sonhos e os adultos das decisões. Chegaram ainda os magos, domadores das chamas e da Lua. Rodearam a fogueira que com o entusiasmo se lançou aos céus, em busca das estrelas.
A noite começou a ficar quente e as distâncias a desaparecer. Seríamos um só corpo. Uma só criança, que decidia seguir os sonhos com um sorriso. O círculo estava-se a fechar.
olhos de água, 2005
À nossa frente passavam agora os dias com todas as emoções que os encheram e que nos deram sede. As frases soltaram-se, eram os magos a pedir uma inspiração divina. As estrelas desceram para as podermos tocar, mesmo as mais distantes. Éramos mais do que um corpo. Éramos, também, o espaço que nos envolvia. O círculo apertava-se, como abraços de um amigo distante.
A emoção começava agora a concentrar-se cada vez mais no centro. A imagem de infinito que tínhamos do espaço perdia-se...pois era quase possível tocar-lhe os limites. No entanto, era ainda tudo o que conhecíamos e pertencíamos. Tornámo-nos numa esfera extremamente pequena e densa, tal como noutros inícios. Era como se de um novo Big Bang se tratasse. O círculo tinha demasiada energia concentrada, estava eminente a sua libertação.
Desfez-se...e pelo espaço, que agora se expandia novamente, via-se o nascer de novas estrelas, com um brilho vítreo, próprio de uma vida no seu novo estado de forma. O círculo tinha-se dispersado.
olhos de água, 2005

Lá em baixo, na nova Terra, via-se gente em busca de madeira. Viam-se os mesmo sorrisos rasgados, os mesmos sonhos e a mesma necessidade de decidir. Lá em baixo, na Terra, crescia a vontade de fazer uma nova fogueira e de criar, à sua volta, um novo círculo. A única certeza era de que este novo princípio levaria a um novo fim, mas que desse fim ressurgiria uma nova fogueira, sob a influência das estrelas.

sábado, janeiro 14, 2006

In...diferente?

Quantas vezes passei pelas prateleiras da fnac e não vi este livro? Apesar da capa que me chamava, o nome não me inspirava muito: O Fiel Jardineiro. Não me atrevi sequer a folheá-lo um pouco, o meu terceiro passo antes de comprar um livro.

Chegou depois o filme. Mais uma vez o nome. Até que um dia me recomendaram: " Devias ir ver o filme, vais gostar." A recomendação foi mais forte e não resisti.


Senti, como não me senti-a há muito no cinema. Segui, atento como uma coruja, toda a história que me era revelada aos poucos. E como sabe bem ir descobrindo, devagar. É tão frequente imaginar um filme de uma ponta a outra apenas com os primeiros traços. Não é o caso deste jardineiro.
Em relação ao título do post...In...diferente. Mais uma vez este realizador consegue criar algo que nos incomoda. Algo que nos põe no nosso lugar com a esperança de acordarmos deste sono profundo. Mostra-nos um mundo que sabemos que existe, mas com o qual não nos queremos confrontar. A responsabilidade não é nossa e nunca teremos possibilidades de mudar seja o que for. A resignação é uma das hipóteses e a principal opção.

Estarei atento e tentarei salvar o que puder, o que estiver ao meu alcance, ao alcance do meu braço. Isso basta para "deixar o mundo um pouco melhor do que o que o encontrei."