quarta-feira, janeiro 25, 2006

Sempre as estrelas...

Às vezes as noites chegam sem avisar. Não sei se é porque o Sol se põe depressa ou se é porque bebemos o dia de um só trago. Seja qual for a razão, o céu já estava pintado de negro e cheio de estrelas. A presença de algumas era reconfortante e o brilho suficiente para uma orientação segura. As outras, por humildade, mantiveram-se à distância, mas sempre presentes.
A madeira estava pronta, ao centro, à espera do fogo. Ao redor estávamos nós, as crianças dos sorrisos rasgados, os jovens dos sonhos e os adultos das decisões. Chegaram ainda os magos, domadores das chamas e da Lua. Rodearam a fogueira que com o entusiasmo se lançou aos céus, em busca das estrelas.
A noite começou a ficar quente e as distâncias a desaparecer. Seríamos um só corpo. Uma só criança, que decidia seguir os sonhos com um sorriso. O círculo estava-se a fechar.
olhos de água, 2005
À nossa frente passavam agora os dias com todas as emoções que os encheram e que nos deram sede. As frases soltaram-se, eram os magos a pedir uma inspiração divina. As estrelas desceram para as podermos tocar, mesmo as mais distantes. Éramos mais do que um corpo. Éramos, também, o espaço que nos envolvia. O círculo apertava-se, como abraços de um amigo distante.
A emoção começava agora a concentrar-se cada vez mais no centro. A imagem de infinito que tínhamos do espaço perdia-se...pois era quase possível tocar-lhe os limites. No entanto, era ainda tudo o que conhecíamos e pertencíamos. Tornámo-nos numa esfera extremamente pequena e densa, tal como noutros inícios. Era como se de um novo Big Bang se tratasse. O círculo tinha demasiada energia concentrada, estava eminente a sua libertação.
Desfez-se...e pelo espaço, que agora se expandia novamente, via-se o nascer de novas estrelas, com um brilho vítreo, próprio de uma vida no seu novo estado de forma. O círculo tinha-se dispersado.
olhos de água, 2005

Lá em baixo, na nova Terra, via-se gente em busca de madeira. Viam-se os mesmo sorrisos rasgados, os mesmos sonhos e a mesma necessidade de decidir. Lá em baixo, na Terra, crescia a vontade de fazer uma nova fogueira e de criar, à sua volta, um novo círculo. A única certeza era de que este novo princípio levaria a um novo fim, mas que desse fim ressurgiria uma nova fogueira, sob a influência das estrelas.

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